Semelhante ao Atlântico, o Oceano Índico foi também lugar de passagem que levou um grande número de africanos para a Índia. Diferentemente do que aconteceu no processo de rapto de africanos e transporte forçado para as Américas, quando os escravizados foram traficados aos milhões para trabalhar prioritariamente em plantações e minas, os africanos levados para a Índia, em contingentes menores, foram obrigados a atuar majoritariamente como escravos domésticos. Isso não os livrou, contudo, de maus-tratos. Os siddis, como são chamados os africanos e seus descendentes na região do Oceano Índico, sofreram na sociedade indiana violências físicas, abusos e humilhações. E a luta deles contra a discriminação está longe de terminar.
O livro busca entender os complexos processos que envolveram a difícil inserção dos afrodescendentes na sociedade indiana. Escravidão, sistema de casta e preconceito de cor/racial são, portanto, importantes temas de fundo - que são tratados nos primeiros capítulos - para entendermos a realidade contemporânea dos chamados siddis. A parte central do livro baseia-se, porém, numa extensa pesquisa de campo em Karnataka, onde os afrodescendentes vivem há séculos retirados, em áreas de difícil acesso. O fato de serem divididos em três grupos religiosos - católicos, muçulmanos e hindus - que falam duas línguas distintas - konkani e urdu - tem dificultado os esforços de uni-los para lutar contra as mais diversas formas de discriminação e exploração e por reconhecimento e direitos de cidadania. O livro mostra como neste processo o signo „africanidade“ tem ganhado um papel especial. Os estudos empíricos permitem, no capítulo final, ampliar e aprofundar reflexões de teor teórico-conceitual, sobretudo em torno dos temas diáspora africana, castismo e racismo.